Jovem Jordanense

Em seguida, está o artigo sobre a perspectiva de futuro do jovem jordanense e a oportunidade de trabalho oferecido pelo mercado local. Publicada no Jornal da Cidadania – Caravana da Cidadania, Edição 02 - dezembro de 2011
 
INTEGRAR PARA NÃO ENTREGAR

Em um curto passeio pelos pontos turísticos de Campos do Jordão nos deparamos com uma situação insólita. As mercadorias expostas para venda em sua grande maioria, são adquiridas pelos comerciantes locais em cidades distantes. O comércio local vive da importação de produtos, não temos produção local que possa suprir este mercado. Grande parte das malhas, dos presentes e das lembranças são criados e produzidos fora de Campos do Jordão. A grande maioria dos funcionários qualificados dos hotéis e restaurantes da cidade também são oriundos de cidades vizinhas, dada a sua qualificação ou interesse no mercado originado pelo turismo.

Evidente que, o mercado do turismo busca a excelência de atendimento em todos os níveis, o comércio principalmente busca produtos e mercadorias com custos menores e em áreas de produção concentrada onde a variedade permite agradar um número maior de clientes. No entanto, fica uma pergunta: e quem vive na cidade?

Vimos nos últimos anos o sucateamento de várias pequenas indústrias em nossa cidade. A indústria de malhas que empregava um grande número de jordanenses foi substituída pelas compras de forma intensiva no sul de Minas Gerais apesar do fato de o mercado consumidor continuar existindo. A explicação é simples: Na época o poder público local alegava que os compradores de malhas no atacado que vinham de ônibus excursões não consumiam na cidade. Várias leis coibiram ou proibiram as varias fábricas de bairro e dificultaram a manutenção de oficinas. Eliminou-se em pouco anos milhares de postos de trabalho que mantinha parte da economia protegida da sazonalidade. Ao mesmo tempo as leis ambientais somadas as leis municipais passaram a coibir a construção civil. Proibiu-se ou coibiu-se a construção de flats, pousadas, hotéis, prédios de apartamentos e não se permitiu criar novas zonas comerciais. Nossos profissionais desta área também estão migrando, principalmente para o Vale do Paraíba. Temos um crescimento vegetativo da população da população local e com ele a necessidade de criarmos novos postos de trabalho e novos negócios, portanto precisamos atrair novos turistas. Com o fomento e investimento no turismo corporativo, principalmente congressos, temos conseguido reduzir a sazonalidade. Afinal, tem muito mais gente querendo viajar.

Teremos condições de atender esses novos turistas? A continuar a atual situação, teremos muita dificuldade, principalmente, a gerada pela falta permanente de mãos de obra treinada e especializada. O desafio maior para Campos do Jordão, portanto, está em um fator que precisa ser tratado com urgência urgentíssima, pois implica na sobrevivência real da cidade: O fator social e humano. O jovem jordanense, notadamente o que vive nos bairros populares e periféricos, não se sente inserido no mercado gerado pelo turismo, é discriminado em sua própria cidade. Se a deficiência do sistema educacional é o gerador dessa situação, a omissão do empresariado é o que fomenta e mantém a exclusão social do jovem jordanense. A sociedade e o poder público tentam de toda forma esconder a realidade que nos cerca. Se a Prefeitura, através de sua Secretaria de Educação não promove a integração deste jovem através do ensino do turismo como matéria escolar, permitindo desta forma que ele tenha acesso as informações sobre este mercado de trabalho, o empresário jordanense por sua vez se omite, pagando muito ais caro na importação de mão de obra para não ter que ensinar e treinar os jovens da cidade. O governo federal investiu pesadamente na formação e qualificação dos jovens jordanenses. Instalou-se o Senac com investimentos fabulosos, e vimos nos últimos anos todos os cursos voltados para baixa renda, serem fechados. Não existe um curso sequer de formação profissional básica programada para este semestre, e os poucos que existem não são acessíveis aos jovens em formação. A escola Senac em Campos do Jordão é uma grande mentira. O governo federal investiu também em uma escola profissionalizante de altíssimo nível, localizado no centro de Abernéssia, e neste momento não consegue formar turmas para que permaneça aberta. Os jovens dos bairros distantes não sabem que ela existe e, muitos que tentam o acesso, não o conseguem, te deficiências educacionais que não permitem acompanhar os cursos. Investiu-se milhares de reais na instalação de uma escola de gastronomia na antiga rodoviária, com equipamentos de altíssima tecnologia, e até este momento o único aproveitamento foi como alojamento de policiais na temporada de julho. A informação não chega ao jovem. O sonho do jovem vincula-se necessariamente migrar para outras cidades, apesar de termos todas as condições físicas para profissionalizá-lo e acolhe-lo.

É preciso que os empresários levem aos bairros a notícia da possibilidade. É necessário que o jovem jordanense receba em sua casa o convite para participar deste futuro, pois ele teme, e com toda razão, continuar segregado e discriminado em sua própria casa. A escola pública deve esclarecer o aluno e demonstrar que o jovem pode e deve participar deste crescimento, o poder público deve fornecer os equipamentos prontos para prepara-lo, os sindicatos devem mostrar o que pode ser obtido pelo futuro trabalhador nesta participação e finalmente, o empresariado tem o dever de oferecer a oportunidade e a complementação do treinamento. Se a sociedade jordanense, composta também por empreendedores não cumprir sua função de integrar e fomentar o desenvolvimento social, fatalmente será engolida pelos concorrentes que têm se mostrado muito mais competentes.

Para que consigamos manter e dinamizar nossa indústria de turismo, antes de pintarmos o cenário e vendermos a entrada, precisamos escalar e ensaiar o elenco, e este é composto de todos os jordanenses, principalmente pelos que estão a margem da evolução que tivemos nos últimos anos. O valor e o lucro de nossos pequenos empreendimentos estão diretamente relacionados a esta integração. Enfim, é preciso integrar para não entregar.

                                                                                                                                  Sílvio da Matta

                                                                                                         Presidente do Convention & Visitors Bureau




Nenhum comentário: